segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Entrevista ao Professor David Ferreira

Aqui publicamos uma entrevista por nós realizada a David Ferreira, professor de Física e Química na nossa escola (ESAF), e que possui um mestrado em Astronomia. Esperamos que se revele tão esclarecedora para vós como o foi para nós.


A Teoria do Big Bang é hoje a teoria mais aceite para explicar a origem do Universo. O que acha sobre esta teoria?

Todos os dados e observações recolhidos levam a concluir que a teoria do Big Bang é a mais ajustada a esses dados e observações. Por isso é que é uma teoria científica - é algo que nós ainda não sabemos se é totalmente certo ou não mas, neste momento, com os dados que temos e com as observações que se fizeram, esta é a teoria que mais encaixa nessas observações registadas. Ainda por cima, permite-nos prever coisas que nós ainda não conseguimos observar mas que no futuro, com instrumentos novos, como por exemplo o LHC, podem comprovar como certas ou não. Se não estiverem certas a teoria tem de ser alterada; se estiverem, a teoria recebe mais uma confirmação.


O físico Alan Guth defendia que o Universo tinha surgido do nada, ou seja, que tinha surgido do vácuo, onde não havia nem espaço nem matéria, apenas energia de alta-frequência. Acha que esta teoria também pode ser plausível?

No mundo do dia-a-dia, nada pode surgir do nada. Quando temos um mágico a fazer aparecer um passarinho num chapéu, obviamente que o passarinho já lá estava. Mas, no mundo do pequeno - dentro dos átomos e das moléculas - há sempre coisas que surgem do nada. Basta haver energia. Se nós tivermos energia podemos criar matéria e anti-matéria, portanto, podem surgir coisas a partir do nada. Como o Universo, quando surgiu, era muito pequeno - estava no mundo do muito pequeno onde estas coisas acontecem - essa teoria é perfeitamente possível. O Universo surge da existência de energia que cria matéria e anti-matéria e a matéria ganhou. Existe mais matéria do que anti-matéria. Nós somos constituídos por matéria. O facto de o Universo surgir do nada, só é estranho à luz das coisas que se passam no nosso dia-a-dia. No mundo do muito pequeno não é nada estranho.

Recentemente, ouviu-se falar muito do Grande Colisor de Hadróns (LHC) na televisão e na imprensa, que entrou em funcionamento no dia 10 de Setembro e que tem como objectivo encontrar a famosa “Partícula de Deus” (Bosão de Higgs), o que nos vai permitir compreender melhor a origem do Universo. O que pensa sobre esta experiência? Acha que vai ser bem sucedida?


O problema das teoria científicas é que as teorias estão imensamente avançadas em relação à prática. Hoje, nós estamos a utilizar na prática descobertas no final do século XIX e início do século XX. Sempre foi assim: a teoria sempre esteve muito avançada em relação à prática e, aquilo que é hoje teoria só vai entrar na prática provavelmente por daqui a cem anos ou mais tempo. Portanto é muito difícil comprovar se uma teoria tem pernas para andar, ou seja, se está mais ou menos certa ou não. O que o LHC vai permitir é precisamente reunir condições para se realizar experiências que possam comprovar teorias que já têm trinta, quarenta ou cinquenta anos. Eu acho que o LHC vai funcionar, não se sabe é se se vai conseguir comprovar aquilo que é previsto pela teoria. Se não conseguir, a teoria tem de ser alterada.


Houve alguns cientistas que se opuseram ao funcionamento deste acelerador de partículas, argumentando que podia trazer consequência drásticas, entres as quais, poderia haver a formação de um buraco negro que engolisse a Terra. Os físicos envolvidos nesta experiência afirmam que tal não é possível acontecer. Concorda que o LHC seja 100% seguro?


Esses mitos existem sempre. Sempre que acontece alguma coisa surgem sempre mitos e opiniões divergentes. Por exemplo, quando o Homem foi à Lua também se pensava que era impossível viajar com uma nave espacial no espaço e uns meses antes da ida à Lua ainda havia pessoas que achavam que era impossível isso acontecer. Pessoalmente, não acho que haja qualquer tipo de risco no LHC. As energias são, de facto, muitíssimo elevadas e energias assim tão elevadas podem criar situações em que a gravidade é muito elevada e que faça surgir um buraco negro, mas é sempre em dimensões ínfimas.

Acha que investimentos científicos como este deviam ser mais divulgados pelos media?


As coisas têm a divulgação que merecem a qualquer altura. O que acontece é que muitas vezes há uma certa incompreensão. As pessoas pensam que se gasta muito dinheiro nessas coisas e que não têm muita utilidade. É importante perceber que toda a tecnologia que usamos hoje e que nos facilita a vida, resultou da Ciência. Muitas vezes resultou de coisas que muita gente pensava que eram totalmente inúteis. Por exemplo, se não soubéssemos como são os átomos por dentro nunca teríamos a tecnologia que temos hoje. Este tipo de investimentos não é só curiosidade, é também a aplicação de prática que se vai trazer. De certeza que vai ter consequências práticas a nível de tecnologia, a nível de cura das doenças - a nível de uma série de coisas que vão facilitar a vida dos nossos descendentes.

Neste momento, sabemos que o Universo está a expandir-se continuamente. Poderá algum dia ele começar a contrair-se e ocorrer o Big Crunch?

Isso tem a ver com a massa do Universo. É a mesma coisa que nós pegarmos num objecto qualquer e atirarmos para cima. O objecto chega a uma dada altura - a altura máxima - e cai. Se atirarmos com mais velocidade ele vai mais alto e cai. Há uma dada velocidade em que atiramos e ele vai para o espaço e nunca mais regressa. Essa velocidade tem a ver com a massa da Terra; se a massa da Terra fosse maior, era preciso mais velocidade para ele ir para o espaço. No Universo é a mesma coisa: será que o Universo vai expandir para sempre ou será que vai chegar a um momento em que vai parar e contrair, tal como o objecto ao chegar à altura máxima e cair? A resposta a esta pergunta tem a ver com a massa que há no Universo. Neste momento não se consegue medir exactamente a quantidade de massa que o espaço possui; não se sabe muito bem qual o destino do Universo. As observações mais recentes parecem indicar que se vai expandir para sempre. De qualquer das formas, mesmo que entrasse em colapso, seria daqui a milhares de milhões de anos. Muito antes do Universo entrar em colapso, iria o Sol acabar, iriam acabar as estrelas que vão surgir depois do Sol, etc.

Para terminar: acredita que, para além de nós, existe vida no Universo?

Sem dúvida nenhuma, é lógico que há. Basta ver que existem mais estrelas no céu visível do que grãos de areia das praias e de todos os desertos da Terra. Cada uma dessas estrelas pode ter planetas. Nem todas os têm, e nem todos os planetas terão vida mas o número de estrelas é tão grande que é perfeitamente impossível não haver vida em mais lado nenhum. Sabemos que a vida é um processo incrível e maravilhoso mas não é um processo que exija condições tão difíceis que só tenham exisitido na Terra. De certeza que há muitos planetas que possuem estas condições também. Além disso, basta ver que há muitos sítios na Terra onde nós pensavamos que não haveria vida, por exemplo nos pólos e no fundo dos oceanos. Em sítios muito difíceis existe vida. De certeza que existe vida por todo o Universo também. Isso é uma questão. Outra questão é nós conseguirmos encontrá-la. As distâncias do Universo são absolutamente gigantescas; por isso, uma coisa é haver vida, outra coisa é nós conseguirmos encontrá-la num futuro próximo. Não é garantido que haja vida perto de nós, mesmo em termos das estrelas mais próximas. Não sabemos muito bem onde procurar. É como se nós fossemos uma areinha e tivessemos encontrado outra areinhas no meio do deserto.

Uma nota final, da nossa parte, para agradecer a disponibilidade demonstrada pelo professor em responder às nossas questões.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Vida no Universo

Sabemos que, na nossa galáxia, existem 400 mil milhões de estrelas, e que no Universo existem biliões de galáxias, ou seja, uma infinidade.

Será possível que nesta imensidade, não exista um único planeta para além da Terra, com vida?

Para começar seria necessário saber qual é a probabilidade do nascimento de vida. Dado que só conhecemos um único caso, que é o nosso, e que ainda não compreendemos como a vida nasceu, a resposta é nada mais nada menos que: não fazemos a mínima ideia.

Estima-se que a vida nasce em 7 planetas na nossa galáxia cada ano, e em 70 milhões no Universo.
Desde 1960 vários radiotelescópios têm sido enviados para o Espaço em busca de sinais de vida inteligente. Os resultados têm sido negativos: nenhuma civilização tentou pôr-se em contacto connosco até ao momento.